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Tenho ouvido durante esse período como Terapeuta, muitas pessoas inconformadas com a “dor” que sentem, como a sentem, comparando-a com a dor de outra pessoa, analisando o seu trauma com o trauma do outro, mensurando, dizendo o quão o do outro é mais doloroso do que o dela, alegando não ter por que ficar assim, mas não conseguem saber o que fazer.

Diante disso, senti de escrever um pouco sobre essa falsa ilusão de mensurar a dor da nossa Criança Interior através da comparação, pois temos de lembrar que a criança tem uma visão das coisas e da vida diferente de nós adultos, uma vez que elas ainda não experienciaram muita das coisas e o que muda é a intensidade que vamos dar e atenção hoje como adultos, aumentando ou ignorando ao invés de acolher e ressignificar.

No início da minha jornada de estudos para me tornar Terapeuta fui muito para as terapias que trabalhavam diretamente o físico (Aurículo terapia, Reflexologia, Tuiná, etc.), até mesmo que eu tinha muito a preocupação em “ajudar minha mãe” em suas dores, falsa ilusão de terapeuta iniciante querer curar a família. Como tudo na vida flui como tem que ser, à medida que fui estudando, me aprofundando nessas técnicas e em outras mais energéticas ou mais comportamentais, fui percebendo que a questão emocional, mental e espiritual reverberava muito mais em mim, ressoando mais com meu propósito. Então aflorou em mim, um novo olhar, com Amor, aos traumas, crenças limitantes, bloqueios, entraves etc., trazendo assim um novo foco terapêutico: levar meus consulentes a despertarem o Amor dentro deles e para isso, era necessário eles identificarem, reconhecerem, acolherem, ressignificarem e liberarem a dor.  O que muita das vezes não é fácil, pois temos medo de olhar para o que aconteceu, ou então acreditamos “ser desnecessário”.

“…temos medo de olhar para o que aconteceu, ou então acreditamos “ser desnecessário”.”

Imagem de Gisela Merkuur por Pixabay

Nós adultos, na maioria dos casos, fomos ensinados a comparar nossa vida com a vida do outro, tanto de coisas boas, quanto de coisas ruins, gerando em nós, frustações, baixa autoestima, autojulgamento, falsa ilusão da realidade, paralisação por nos considerarmos incapazes dentre outras coisas. E a medida que fomos crescendo esses padrões acentuam-se, tornando-se pior, pois começamos a analisar racionalmente o que sentimos e o que o outro sente, a medir se é maior ou não, se é pior ou não, se é melhor ou não. E como adultos, mais uma vez, caímos na armadilha de não aceitarmos nossas emoções/traumas/etc., ignorando-as, ou por preconceitos internos ou por “ouvir demais o que o outro acha” ou, até mesmo, por comparar pelo que acontece com o outro.

“somos únicos em um todo”

Imagem de Tanuj Handa por Pixabay

Temos de lembrar que cada um de nós temos nossa individualidade, somos únicos em um todo e, tanto as emoções que são consideradas positivas quantas emoções que são consideradas negativas, será percebida de forma diferente por cada pessoa. Pois como eu sinto alegria pode ser muito diferente da forma que você sente alegria, eu posso celebrar e me alegrar com uma bala que ganho de alguém que gosta de mim e você só vai se sentir feliz, para celebrar, se ganhar algo mais “significante”, como um jantar todo romântico etc. Depende muito de pessoa para pessoa, não tem como a gente falar que um está certo e outro não, pois a percepção é individual, em uma mesma festa todos os participantes podem “curtir” a festa de formas diferentes, vai de cada um. O olhar para uma árvore na rua cada pessoa irá enxergar coisas diferentes, por termos diferenças na percepção.

Vamos a um exemplo que as vezes choca quando eu falo, mas após explicar faz muito sentido a quem não havia compreendido. Uma criança quando alguém toma “bruscamente” um brinquedo, gera o mesmo sentimento de dor, raiva etc., de uma criança que é abusada ou que sofre com a morte de um pai/mãe/irmão ou pela partida de amigos. Mas como assim Renata, isso é um absurdo essa comparação. Para nós adultos sim, mas para a criança, o sofrimento é o mesmo pois, quando alguém toma o brinquedo dela, ela pode se sentir desprotegida, desamparada, incompreendida, com a sensação de perda, e quando a criança é abusada (falo em quaisquer uma das formas: emocional, psicológica, física etc.) ela sente que não foi protegida, que está desamparada por não ter a quem socorrer e, em muitos casos, que a vida não tem sentido por ter se perdido naquela situação etc. Nessa situação a grande questão vai ser: Eu, como adulta, sei identificar a dor da minha criança? E ainda, sei o que fazer com essa dor? Eu acolho? Eu julgo? Eu comparo? Eu martirizo? Eu estagno minha vida? “O que eu faço?”

Com nossa dificuldade de aceitar o que aconteceu, de não querer olhar com Amor para essa Criança Interior ferida, de não querermos aceitar ou termos dificuldade em aceitar, com isso a criança não deixa o adulto crescer, assumir a sua vida, fica em uma eterna busca de sarar a dor.

Para algumas pessoas as lembranças são nítidas, mas para alguns não, fica esquecido, somente trazendo a sensação de que algo aconteceu. Esse esquecimento é um mecanismo de defesa da nossa mente, uma válvula de escape superficial que deixa as sequelas/bloqueios/etc. da mesma forma, sejam físicas, comportamentais, dificuldade de relacionamento, de exageros, de vícios etc., variando de pessoa para pessoa, pois cada um de nós manifestamos de formas diferentes, podendo ter similaridade, mas nunca igual.

Algumas pessoas ainda trazem os traumas do período de gestação, enquanto feto. Nesse período recebemos todos os sentimentos vividos pelas pessoas que estão a nossa volta, registrando em nós essas memórias física, emocional, mental e espiritual. Esses sentimentos podem ser construtivos (amor, alegria, acolhimento etc.), mas também podem ser negativos (rejeição pela gravidez, brigas entre os pais, abusos etc.), gerando em muito dos casos, comportamentos, traumas, padrões, bloqueios que a pessoa não compreende de onde vem, sabendo apenas que existe “algo errado”.

Já acompanhei uma pessoa que foi abusada e não lembrava, só depois de mais de 35 anos sua mente permitiu que a lembrança viesse a tona e a partir daí ela pudesse iniciar a auto cura. Algumas pessoas perguntam, mas porque tanto tempo depois? Porque só nessa época ela estava pronta para trabalhar os traumas gerados, o que demorou aproximadamente 5 anos de tratamentos, pois foram várias sequelas. Em compensação acompanhei outra pessoa que quando identificamos os traumas da infância, machucados, brigas familiares, rejeição etc., ela não quis continuar, por falar que não justifica ela ser/agir como agia pelo que havia acontecido e parou. Sabem por quê? Porque para a Criança Interior dela foi falado tanto que tudo que ela passou era “bobagem” e que ela era forte superava sozinha que hoje, mesmo ela adulta, ela trás esses padrões e não se permite curar acolhendo-se, gerando assim, novos traumas/bloqueios como adulta.

Gente, é uma cascata, quanto mais demoramos para trabalhar essas questões da Criança Interior ferida mais vai acumulando, mais vai gerando novas feridas. Quanto mais não acolhemos e cuidamos dessa criança, curando-a, mais ela vai pirraçar e “empacar”. As vezes não adianta ser “duro/bravo” com ela, pois isso só a irrita, temos de ser amáveis e firmes, acolhendo-as e direcionando a nova vida, adulta, segura de si e com planos.

“não adianta ser “duro/bravo” com ela, pois isso só a irrita, temos de ser amáveis e firmes, acolhendo-as e direcionando a nova vida, adulta, segura de si e com planos.”

Imagem de icsilviu por Pixabay

Tem uma frase que no início ouvia e achava estranho, mas hoje faz muito sentido: “a vida é muito simples somos nós quem complicamos tudo”, sim, isso mesmo, somos nós quem dificultamos as coisas. Pela nossa visão adulta racional, pela nossa Criança Interior ferida, com isso é importante compreendermos que tudo dependerá de como encaramos qualquer situação, como assumimos a responsabilidade de nossa vida agora e do que já fizemos e o quanto estamos dispostos a desapegar dessas dores da Criança Interior ferida, isso mesmo, desapegar.

“o quanto estamos dispostos a desapegar dessas dores”?

Imagem de Jody Davis por Pixabay

Falo do desapego, pois nos acostumamos a sofrer, não é bom, mas é uma zona de conforto, uma dolorosa zona de conforto. Já sabemos como é viver com os sentimentos da forma como estão, e deixar ir nos exigirá viver de forma diferente, a criar uma nova realidade, a assumirmos que tínhamos dificuldades/desculpas, mas agora, pós nos libertarmos, podemos seguir um novo caminho, somos responsáveis por nós, sim, isso mesmo, quando vivemos apegados a “dor” da Criança Interior ferida, por sermos crianças, não nos tornamos responsáveis pela nossa vida. Gente, dói a princípio essa percepção, dói, mas aceitar e deixar ir, deixa essa dor do orgulho ir embora também e nos faz um bem enorme.

Lembre-se, podemos assumir a rédea de nossas vidas, sendo leais a nós mesmos e confiando, que quando a mudança vem de nós, tudo passará a fluir de uma forma leve, serena e com muito amor. E para ajudar abaixo ensino um gostoso e divertido exercício de resgate da Criança Interior.

Uma linda vida viva a você hoje e sempre.

Beijocas no coração